quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

ÉPOCA DE TEMPESTADES (Gilberto Veppo)
A tarde se calou por alguns instantes, antes do primeiro estrondo e, ouviu-se um breve comentário: “os sentimentos mais expressivos são aqueles que emergem durante uma tempestade”. Não havia naquelas palavras uma previsão das tragédias, da falta de preparo diante do vendaval, da chuva e do granizo. Era significativo conhecer, também, a agitação da natureza, antes e depois de um temporal. Quando o vento começa a soprar, as pombas voam sobre os campanários e as lebres correm para abrigar-se em suas tocas. As árvores se curvam nas colinas, os rios ficam sinuosos e as lagoas se arrepiam. Embora a tempestade sobressalte pela sua rapidez, pela sua negritude e pelo sibilar do vento que sopra forte, ela enobrece, pelo aceno da humildade, quando o homem repensa seus valores e reza à Deus. Teme-se a imprevisibilidade, o choque das correntes, as nuvens escuras que cercam o horizonte. E sabe-se que a tempestade vem acompanhada de estalidos. Primeiro ela explode ruidosa como uma jovem e depois se posta arrojada e charmosa, como uma mulher madura. Há no seu bojo o adorno do encantamento, do medo, do suspiro e do pranto. Na tempestade evidencia-se o caos e a redenção. Nem os sábios conseguem descrevê-la, porque há a incerteza do seu acaso. Somente reafirmam que as expressões mais inquietantes e verdadeiras são as que afloram no rigor de uma tempestade. Delineie o olhar diante do brilho repentino de um raio. Segure a mão de alguém, ao estrondo de um trovão. Ouça o ronco do riacho, após o aguaceiro. Depois do temporal, olhe o céu, sinta o aroma, o reavivar-se das plantas, o som da Terra. Delicie-se com a continuidade do “plic-plic” monótono e formal da chuva suave. Observe o revoar das andorinhas e o relinchar do potro no campo. Depois do perigo e do medo, o cenário muda. Tudo parece mais claro, colorido e transparente em nossas mentes e em nossos corações. E, não esqueça, ainda, de deleitar-se com o final da tarde onde haverá insinuações de um tímido sol avermelhado no horizonte. A tempestade, já, passou. Mas, junto a figueira permaneceram tímidas sequelas. Lá, como por encanto, você encontrará a polpa vermelha de suculentos figos, jogados ao chão, abandonados. Assim, como os figos caem e se abrem, nossos princípios se sobrelevam depois de uma tempestade.

0 comentários: